Por Valentina Figuerola
O desenvolvimento sustentável deve atender às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento das necessidades de gerações futuras.” A definição de um conceito tão debatido atualmente foi publicada, em 1987, no Brundtland Report, relatório emitido pela Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development) ou Brundtland Commission, criada em 1983, pelas Nações Unidas. O objetivo era definir políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável nos âmbitos social, econômico e, sobretudo, ambiental. E no que concerne à arquitetura? Existe algum consenso sobre o que é um projeto de arquitetura sustentável e quais diretrizes deve seguir?
Segundo Valério Gomes Neto, conselheiro do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), uma edificação sustentável é aquela que quantifica os impactos que causa ao meio ambiente e à saúde humana, empregando todas as tecnologias disponíveis para mitigá-los. “É um edifício que consome menos energia, água e outros recursos naturais, considera o ciclo de vida dos materiais utilizados e o da edificação desde o seu projeto, passando pela construção, operação e manutenção, até o esgotamento da sua destinação original”, afirma o conselheiro.
O projeto sustentável deve ser desenvolvido por uma equipe multidisciplinar integrada que trabalhe em conjunto desde a concepção – sob a figura de gerenciador ou coordenador, especialista em sustentabilidade (veja organograma do ciclo de produção do projeto sustentável). O arquiteto Célio Diniz, um dos sócios do escritório DDG Arquitetura, rejeita o modelo linear de trabalho em que o projeto arquitetônico é entregue aos projetistas complementares que, a partir daí, desenvolvem trabalhos para compatibilização. “Hoje, o processo projetual passou a ser circular e todos contribuem desde o início”, afirma Diniz.
O projeto sustentável, assim como qualquer projeto de arquitetura, deve ter início após a identificação das características dos usuários do edifício, do entorno e, sobretudo, do clima. Neste sentido, as simulações computacionais poderão ser úteis para definir materiais e critérios de desenho que aproveitem melhor as condições climáticas do local onde o edifício será implantado.
Um dos elementos fundamentais no desempenho térmico das construções é a fachada. “Quando bem projetada, a fachada ventilada é eficiente na diminuição da transmissão do calor, reduz o consumo de energia com ar-condicionado, diminui a pressão do vento na vedação interna e, além disso, controla melhor a infiltração de água, reduzindo os custos com manutenção”, diz o engenheiro Jonas Silvestre Medeiros, da Inovatech.
Apesar dos benefícios que trazem, recursos como a fachada ventilada deixam de ser adotados no Brasil por onerarem demasiadamente os custos de um empreendimento. O mesmo acontece com o processo de projetos. “As fases de planejamento e projeto no modelo sustentável são mais demoradas e custosas, mas vão trazer economias de recursos, tempo e dinheiro nas fases de construção, uso e manutenção da edificação (ciclo de vida da edificação)”, explica Alexandra Lichtenberg, arquiteta da Ecohouse e mestre em conforto ambiental e eficiência energética pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Segundo Gomes Neto, o Brasil carece de critérios mensuráveis para projetar e medir a eficiência dos prédios no que se refere à sustentabilidade. “Suprimos essa lacuna aplicando as normas norte-americanas do sistema LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que é o mais difundido no mundo”, diz o conselheiro. Desenvolvido pela organização USGBC (United States Green Building Council), o LEED é um sistema de classificação de edificações a partir de critérios de sustentabilidade ambiental em diferentes categorias.
A agência do Banco Real, em Cotia, na Grande São Paulo, foi o primeiro edifício da América Latina a ser certificado pelo LEED. Ao desenvolver programas como o “Real Obra Sustentável”, o banco cria parâmetros para projeto e construção sustentável, além de promover a responsabilidade nas questões social e ambiental nos empreendimentos imobiliários que financia. “Avaliamos o projeto arquitetônico, a política interna da construtora e os cuidados no canteiro de obras”, explica Carolina Piccin Silberberg, sócia da Sistema Ambiental, empresa criadora do programa e que tem avaliado o grau de sustentabilidade dos empreendimentos financiados pelo banco desde 2007. “Criamos uma ferramenta de avaliação de sustentabilidade e desenvolvemos índices de desempenho para cada requisito”, acrescenta Carolina.
A flexibilidade é outro item importante num projeto de arquitetura sustentável. “Deve-se evitar a excessiva customização da edificação, pois isso gera, em caso de um novo uso, uma grande quantidade de entulhos de demolição com altos custos financeiros e ambientais”, afirma Gomes Neto. Ele explica que, para ser flexível, o projeto deve contemplar itens como grandes vãos, lajes amplas com poucos apoios, pé-direito pouco maior que os tradicionais e divisórias internas leves, como as de gesso acartonado.
Fonte: téchne
http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/133/artigo286492-1.aspx